Fonte: Gabrielle Monice/ Fonte: matéria da Folha de S.Paulo
Telma Abrahão comenta dados do SUS que abordam a saúde mental piorada na faixa dos 10 aos 18 anos
Indicadores de saúde mental de jovens apresenta piora e registros de ansiedade na faixa dos 10 aos 18 anos supera pela primeira vez os adultos, segundo dados da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS de 2013 a 2023 analisados por um grande veículo de comunicação.
Telma Abrahão, biomédica e especialista em neurociência e desenvolvimento infantil, explica quais são as possíveis causas e esclarece como ajudar ao notar sinais dentro de casa.
“O índice de ansiedade entre crianças e jovens está realmente muito alto e isso é preocupante”, comenta Abrahão. Para a especialista, há dois pontos muito importantes nos quais os adultos responsáveis precisam prestar muita atenção.
“O primeiro é o tempo de tela que essas crianças e adolescentes estão tendo acesso. As telas causam vício ativando o sistema de recompensa do cérebro e aumentando a liberação de dopamina. A criança fica querendo cada vez mais e mais. Com isso, ela perde a capacidade de se concentrar para ler um livro, de se conectar com pessoas, de estudar, deixa de fazer esportes, de se dedicar a coisas que ela realmente gosta de fazer e tudo isso impacta negativamente o desenvolvimento infantil, além de trazer impactos negativos à sua saúde mental”, explica.
Mas existe também um outro cenário que é uma educação baseada no medo, no autoritarismo, na ameaça. Quando os pais não se conectam com as crianças, têm pouco tempo de qualidade, não atendem às necessidades básicas de apego e segurança, essa relação gera medo, aumenta a ansiedade.
“O medo ativa o sistema de luta ou fuga do cérebro. Isso faz com que a criança ou adolescente fique hiper vigilante, faz com que ela fique com aquele receio de que algo ruim aconteça a todo instante, fique se protegendo de algum perigo e veja ameaça até onde não existe. Tudo isso afeta a relação com amigos, a relação com a escola, com a professora. A ansiedade vem muito do tipo de relacionamento que essa criança tem com os pais ou principais cuidadores”, diz Abrahão.
Alguns sinais para notar a ansiedade em excesso na criança são quando ela não consegue ficar quieta, não para de falar, pode roer unha, ter dificuldade para dormir, demonstrar mais irritação, mais insegurança, mais medo.
Como agir para ajudar?
“Dando apoio emocional e percebendo que existe algo por trás daquele comportamento. Tente abrir espaço para conversar, ouvir o que a criança sente e pensa”, aconselha a especialista. Além disso, para Telma é essencial ter uma educação baseada no respeito mútuo, no afeto e principalmente na segurança emocional. “Parar de educar com base no medo, na ameaça, porque é justamente esse comportamento que faz com que a criança esteja sempre em alerta, sempre com medo. A criança acaba se retraindo, fica com muito medo de errar e aquilo vira um problema”, alerta.
E finaliza: “Se os pais não mudarem a forma de se relacionar com a criança, ela não vai mudar sozinha. O ambiente precisa ser ajustado, a forma com que essas pessoas se relacionam dentro da família tem que ser reajustada”.