Foto: Divulgação/PMETRP.
A jovem atleta Mariana Rangel, de 16 anos, tem superado barreiras dentro e fora do tatame. Surda e muda, ela conquistou recentemente o Campeonato Brasileiro de Karatê em Minas Gerais e agora, com o apoio da Prefeitura de Ribeirão Pires, se prepara para o desafio internacional: o Campeonato Sul-Americano, que acontecerá nos dias 7 e 8 de dezembro, em Brasília. Mariana, que treina na academia de Karatê Kyokushin em Ribeirão Pires, será a única atleta no evento competindo na categoria de inclusão, um marco importante para o esporte e para a integração de pessoas com deficiência nas artes marciais.
Nascida já com a surdez profunda, Mariana descobriu apenas aos quatro anos a sua condição. Desde então, precisou enfrentar desafios que vão muito além dos tatames. Durante a infância, a falta de acessibilidade em sua escola e o preconceito de colegas a isolaram, dificultando seu desenvolvimento social. Porém, foi nas artes marciais que a jovem encontrou um caminho para expressar sua força e determinação.
Até os 15 anos, a atleta não se comunicava em libras e tampouco sabia escrever, porém, depois conheceu a intérprete de libras Márcia Aparecida e ela ajudou a ensinar a jovem. Mariana começou a treinar karatê aos nove anos, incentivada por um primo, mas foi aos 15 que ela retomou a prática com mais seriedade. “Quando eu voltei para o karatê, me apaixonei pelo esporte. Foi algo mágico. Desde então, nunca mais parei”, relata a atleta, que viu sua trajetória ganhar ritmo rapidamente. Em menos de dois anos, ela já estava competindo em alto nível, alcançando resultados expressivos.
Aos 16 anos, Mariana já carrega consigo o título de campeã brasileira de Karatê, conquistado no estado de Minas Gerais. Essa vitória não apenas lhe trouxe reconhecimento no cenário nacional, mas também abriu as portas para a competição continental. Agora, ela se prepara para enfrentar atletas de outros países sul-americanos em Brasília, onde buscará mais uma vitória.
A participação de Mariana no Campeonato Sul-Americano de Karatê é histórica. Ela será a única atleta da competição que possui deficiência auditiva e/ou de fala. O sensei Diogo, seu treinador na academia de Karatê Kyokushin, destaca a importância da presença de Mariana no evento: “O karatê é para todos, e ver a Mariana superando tantas dificuldades para competir em um nível tão alto é inspirador. Ela já é um exemplo de perseverança para todos nós.”
A inclusão de Mariana no karatê competitivo envolveu algumas adaptações nas regras para que ela pudesse receber orientações de seu treinador durante as lutas. Diogo explica como foi preciso adequar a comunicação: “Como a Mariana não pode ouvir os comandos durante a luta, solicitamos à Federação que incluísse um intervalo de 15 segundos para que eu pudesse orientá-la através de gestos. Isso permitiu que ela se mantivesse competitiva e recebesse as instruções necessárias.”
Essas adaptações foram bem recebidas tanto pela Federação Paulista de Karatê quanto pela Confederação Brasileira, que demonstraram apoio em ampliar a inclusão de atletas com deficiência. O exemplo de Mariana tem sido fundamental para fomentar a discussão sobre a necessidade de tornar o esporte acessível a todos.
Com o Sul-Americano de Karatê se aproximando, Mariana intensifica os treinamentos. Ela se dedica diariamente aos treinos na academia Kyokushin, focada em aperfeiçoar suas técnicas e manter o condicionamento físico. Seu treinador, Diogo, acompanha de perto essa preparação, ajustando os treinos para que Mariana esteja no seu melhor desempenho em dezembro.
O Campeonato Sul-Americano será um desafio e tanto, com atletas de países como Argentina, Chile, Uruguai e Peru. No entanto, Mariana entra na competição com uma mentalidade positiva e motivada por sua recente conquista nacional. “Eu sei que posso ir mais longe. Ganhar o Brasileiro me mostrou que sou capaz de competir com os melhores. Agora, quero conquistar também o Sul-Americano e continuar representando o Brasil”, afirma a jovem atleta.
A trajetória de Mariana Rangel é um exemplo de resiliência e determinação. Surda e muda, ela não apenas encontrou no karatê uma forma de se expressar, mas também provou que limitações físicas não são obstáculos para o sucesso. Sua história já inspira outros jovens atletas, com ou sem deficiência, a acreditarem que a superação de barreiras pessoais é possível.
Mariana espera que sua participação no Campeonato Sul-Americano ajude a abrir mais portas para atletas com deficiência e a chamar a atenção para a importância da inclusão no esporte. Para ela, cada golpe no tatame é uma vitória, e sua luta vai além das competições. “O karatê mudou minha vida. Eu quero continuar treinando, competindo e mostrando que todos nós podemos superar nossos desafios, independentemente das dificuldades que enfrentamos”, conclui a atleta.